quarta-feira, 27 de janeiro de 2016


Sh’ma Israel שמע ישראל Sarit Hadad


Um Homem e a Sua Vida

Yehuda Amichai (1924-2000), poeta israelita.

Yehuda Amichai
Yehuda Amichai
Um homem não tem tempo na sua vida
para ter tempo para tudo.
Não tem momentos que cheguem para ter
momentos para todos os propósitos. Eclesiastes
está enganado acerca disto.
Um homem precisa de amar e odiar no mesmo instante,
de rir e chorar com os mesmos olhos,
com as mesmas mãos atirar e juntar pedras,
de fazer amor durante a guerra e guerra durante o amor.
E de odiar e perdoar e lembrar e esquecer,
de planear e confundir, de comer e digerir
que história
leva anos e anos a fazer.
Um homem não tem tempo.
Quando perde procura, quando encontra
esquece, quando esquece ama, quando ama
começa a esquecer.
E a sua alma é erudita, a sua alma
é profissional.
Só o seu corpo permanece sempre
um amador. Tenta e falha,
fica confuso, não aprende nada,
embriagado e cego nos seus prazeres
e nas suas mágoas.
Morrerá como um figo morre no Outono,
Enrugado e cheio de si e doce,
as folhas secando no chão,
os ramos nus apontando para o lugar
onde há tempo para tudo.

(Tradução de Shlomit Keren Stein e Nuno Guerreiro)
Fonte: http://ruadajudiaria.com .
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Humor judaico

  • Cinco judeus mudaram a maneira de ver o mundo:- Moisés disse: “A lei é tudo.”
    – Jesus disse: “O amor é tudo.”
    – Marx disse: “O dinheiro é tudo.”
    – Freud disse: “Tudo está na cabeça.”
    – e finalmente Einstein disse: “TUDO é relativo.”
  • D’us perguntou aos Gregos:- Vocês querem um mandamento?
    – Qual seria o mandamento, Senhor?
    – Não matarás!
    – Não, obrigado. Isso interromperia nossa sequëncia de conquistas. Então D’us perguntou aos Egípcios:
    – Vocês querem um mandamento?
    – Qual seria o mandamento?
    – Não cometerás adultério!
    – Não obrigado, isso arruinaria nossos finais de semana!
    D’us perguntou então aos Assírios:
    – Vocês querem um mandamento?
    – Qual seria o mandamento?
    – Não roubarás!
    – Não obrigado, isso arruinaria nossa economia!
    E assim, D’us foi perguntando a todos os povos, até chegar aos Judeus:
    – Vocês querem um mandamento?
    – Quanto custaria?
    – É de graça.
    – Então manda dez.
Fonte: http://www.webjudaica.com.br/humor/#
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Reformista4

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Oração da Meia-Noite

Chaim Nachman Bialik (Rússia, 1873-1934)
Chaim Nachman Bialik
Chaim Nachman Bialik
Na escuridão da noite, o vento derrama
baldes de chuva no rosto da aldeia;
A pobre terra, afundada em lama,
salpicos e repouso, descansa.
As ruas calaram-se, apenas se ouve
o crepitar do cair da chuva.
Em redor, as casas humildes
projectam-se, aqui e ali, da escuridão.
Como órfãos que boa gente esqueceu
de vestir antes do soprar dos ventos frios,
as barracas de telhados nus
agacham-se procurando abrigo.
Será que sonhos medonhos inquietam o seu descanso?
Será que visões abomináveis se colam em seu redor?
Erguendo os punhos no ar,
parecem tremer e protestar.
Os pingos de chuva escorrem nas paredes
e com o som de choro enchem os ouvidos,
os telhados encharcados balançam, soltos.
A pequena aldeia cobre-se de lágrimas.
Nem uma estrela penetra a escuridão,
densa, suspensa sobre nós,
uma janela apenas revela uma centelha:
Um judeu acordou para orar à meia-noite.
Fonte: http://revista18.uol.com.br/visualizar.asp?id=1168 .
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Frases, ditados e provérbios judaicos

  • Um bom discípulo é como uma cisterna bem construída: ele não deixa cair uma só gota de água do ensino do mestre
  • Deus não poderia estar em todos os lugares, por isso Ele criou as mães.
  • Uma mãe entende mesmo o que um filho não diz.
  • Para o ignorante, a velhice é o inverno; para o instruído é a estação da colheita.
Fonte: http://www.ditados.com.br/autor.asp?autor=Ditado%20Judeu .
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Judeu negro
Judeu negro

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Credo

Shaul Tchernichovsky (1875-1943), médico, poeta e tradutor israelita de origem russa. Poema escrito em 1928.

Shaul Tchernichovsky
Shaul Tchernichovsky
Ri, ri de todos os meus sonhos!
O que sonho será realidade!
Ri por eu acreditar nos homens,
E por acreditar em ti.
Minha alma pede ainda uma liberdade,
Que não se troca por bezerros de ouro.
Porque ainda acredito nos homens,
E no seu espírito forte e corajoso.
E no futuro acredito
Que ainda distante, ele virá
Quando nações abençoem outras
E paz por fim a terra encherá.
Fonte: http://ruadajudiaria.com .
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Humor judaico

  • Qual a diferença entre um casamento judaico Ortodoxo, Conservador e Reformista?No Ortodoxo, a mãe da noiva entra na sinagoga grávida.No Conservador a noiva entra grávida. E no reformista a rabina está grávida.
  • Qual a diferença entre uma mãe italiana e uma mãe judia?A mãe italiana diz para o filho: “come se não te mato”A mãe judia diz para o filho: “come se não EU me mato!”
Fonte: http://www.webjudaica.com.br/humor/#
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Jews Family
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LUA

Natan Alterman (Polónia, 1910-1970)
(Trad. Cecília Meireles)
Natan Alterman
Natan Alterman
Mesmo as imagens familiares têm um instante de nascimento.
Céus sem pássaros
são estranhos e fechados.
A noite fica à janela, ao luar,
e a cidade está mergulhada nas lágrimas dos grilos.
E ao ver que um caminho espera ainda um passante
e a lua
em cima da baioneta do cipreste,
dizes: meu Deus, tudo isso ainda existe?
Pode-se ainda, em voz baixa, perguntar como estão passando?
A água das poças olha-nos e reflecte-nos.
A árvore descansa
com seus brincos vermelhos.
Nunca, meu Deus, arrancarão de mim
o sofrimento dos teus grandes brinquedos.
Fonte:
http://alicerces1.blogspot.com .
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Frases, ditados e provérbios judaicos

Alguns provérbios da sabedoria judaica, organizados por Arnaldo Niskier:
DENTES: se não podes morder, é melhor não mostrar os dentes.
APRENDER: aprendi muito com meus mestres, mais com os meus companheiros, e mais ainda com os meus alunos.
ÁGUIA: uma águia não caça moscas.
BÊNÇÃO: as bênçãos são bênçãos para quem abençoa, e as maldições são maldições para quem amaldiçoa.
CONTEÚDO: não olhes a jarra, mas o que ela contém. Há jarras novas que contêm vinho velho e delicioso e há jarras velhas que nem sequer contêm vinho novo.
ELOGIO: quando você vive bastante, é acusado de coisas que nunca fez e elogiado por virtudes que nunca teve.
GERAÇÃO: bem-aventurada a geração em que o grande aprende com o pequeno.
HONRA: não é o lugar que honra o homem, mas o homem que honra o lugar.
CALÚNIA: a língua que calunia mata três pessoas ao mesmo tempo: a que profere a calúnia, a que escuta e a pessoa sobre a qual se fala.
Fonte: http://www.netfrases.com/proverbios-da-sabedoria-judaica.html .
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domingo, 17 de janeiro de 2016

(Poemas de Elionay amante de Israel)
De uma somente eu coroei as palavras do Messias diga Israel,
onde montanhas sãos vastas e digam de ninguém como o mesmo sol da mãe natureza
como o mesmo rio onde eu nasci e eu te pergunto como de ninguém?
Coroei por gerações escrito em um livro os feitos de meu povo e hoje
o mundo é o lixo onde eu não nasci...
Nascimento é de cima e não de baixo com as tábuas escrito pelo Criador dizendo hoje em tua terra Eu Sou.Se Deus diz isso em sua palavra porque renegar e se ele diz
que a terra se chama de Israel porque nos tirar?
E se foi um maná que ele nos deu porque dar para outro alguém?
1
Hoje eu sei o por que é porque Eu Sou...
E foi um marco de zero a dez e nunca me escutou como
túmulo escrito judeu este me presenteou e com uma faca
dizendo Eu é Que Sou esta me matou...
2
Não a motivo para parar de ler se este o teu querer e começa a rasgar porque
tudo só fala de nós e da nossa terra que Israel é nosso lar.
Então que chorem os céus e a rua da cidade pois este é nosso sonho e nosso povo somos
a verdade e se alguém diz ao contrario este tem um pacto com o diabo pois está escrito Eu Sou o teu Deus ó Israel e de dou o meu pão não há outro alguém...
3
E com o sonho de uma narrativa e com uma musica de solidão esmagam a nós com
bombas e destruição e nos acusa por existir dissemos Mor até aqui...
Se há algum Deus em Cristo ele uns de nós amou e há de amar e tu
que o rejeitou ele vai os matar pois nossa origem é essa e só não
sabíamos a verdade mas uma vez descoberta adeus a vaidade...
4
Então não digam do passado que me ajudou na verdade o passado nós somos sim Senhor.
E se unam a nós com o tom de irmão e que chorem aqueles que queriam o nosso pão.
Amor e cilada nos ajudou a ver e com este pensamento o mar a si mover...
E duas partes o mar ele si abriu não em dois povos que o Criador dividiu...

Poemas de Yehuda Amichai

Duas novas traduções de poemas do israelense Yehuda Amichai (1924-2000). Nossas versões foram elaboradas em cima das traduzidas do hebraico ao inglês por Chana Bloch e Stephen Mitchell (Selected Poetry of Yehuda Amichai, New York, Harper & Row).

De três ou quatro numa sala

De três ou quatro numa sala
há sempre um que aguarda ao lado da janela.
Ele vê talvez a maldade entre as espinhas
e os incêndios nas colinas.
E como pessoas que saíram de casa inteiras
são devolvidas no final da tarde como moedas pequenas.
De três ou quatro numa sala
há sempre um que aguarda ao lado da janela,
seus escuros cabelos por cima dos seus pensamentos.
E adiante dele, vozes que vagueiam sem mochila,
corações sem provisões, profecias sem água.
pedras grandes que são devolvidas
e permanecem seladas, como cartas que não têm
endereço, ninguém para recebê-las.

Poemas para uma mulher

1.
Teu corpo é branco como areia
onde nunca brincou criança nenhuma.
Teus olhos são tristes e formosos
como imagens de flores num livro didático.
Teu cabelo solto,
como a fumaça do altar de Caim:
Preciso matar meu irmão.
Meu irmão precisa me matar.
2.
Todos os milagres da Bíblia e todas as lendas
aconteceram entre nós enquanto estávamos juntos.
Na calma colina de Deus
pudemos descansar um pouco.
O vento da matriz soprava para nós em todo lugar
Sempre tínhamos tempo.
3.
Minha vida é triste como o perambular
dos errantes.
Meus pensamentos são viúvas,
minhas chances não casarão nunca,
jamais.
Nossos amores vestem os uniformes dos órfãos
do orfanato.
As bolas de borracha voltam à suas mãos
após bater na parede.
O sol não volta.
Nós dois somos uma ilusão.
4.
A noite toda teus sapatos desabitados
uivavam ao lado da cama.
Tua mão direita alcança desde teu sonho
Teu cabelo estuda “noitês”
de um manual de vento
rasgado.
As cortinas que se movimentam:
embaixadoras de superpotências estrangeiras.
5.
Se você abrir teu casaco,
Terei que dar o dobro de amor.
Se você vestir o chapéu redondo e branco,
Terei que exagerar meu sangue.
Da sala onde você faz amor,
terão que tirar todos os móveis
todas as árvores, todas as montanhas, todos os oceanos.
O mundo é estreito demais.
6.
A lua, aferrolhada com uma corrente,
fica quietinha lá fora.
A lua, aprisionada nos galhos da oliveira
não consegue libertar-se.
A lua de esperanças roliças
roda entre as nuvens.
7.
Quando você sorri
As idéias serias se exaurem.
De noite as montanhas ficam quietas ao teu lado,
de manhã a areia te acompanha os passos até a praia.
Quando você me faz coisas agradáveis,
todas as indústrias pesadas encerram atividades.
8.
As montanhas têm vales
e eu tenho pensamentos.
Estendem -se até a neblina e até
a ausência de estradas.
Atrás da cidade portuária
impunham-se os mastros.
Atrás de mim começa Deus
com cordas e escadas,
com caixas e guinchos,
com sempre e para sempres.
A primavera nos encontrou;
todas as montanhas ao nosso redor
são pesos de pedra
para pesar o quanto amamos.
A grama afiada chorava aos prantos
no nosso esconderijo escuro,
a primavera nos encontrou.

terça-feira, 5 de janeiro de 2016


Israel
O lar das promessas de Deus será o teu nome terra aleluia?
Como vaso e o oleiro e ainda como o banal e o arqueiro Israel jamais se curvara ao falso Deus e com o verdadeiro que diz Eu Sou eles estarão.Mas como o ruivo e o lobo e como a vespa e o besouro jamais comera direito em tribulação pois é santa do seu Deus que não é um irmão mas o Pai que conta a sua palavra e diz Eu Sou...
Israel é eterna como uma musica em sua terra que diz santa e pura...E Israel é uma certeza que do seu vinho gera fortaleza e as minas do rei Salomão...E como o vaso e o oleiro ela é a terra eterna que jamais apagara da sua destra o nome do Senhor...
E Como o novo e como o velho e como o justo assim é seu Senhor... 

Dahlia Ravikovitch (דליה רביקוביץ) foi uma poeta israelense, nascida em 1936 num subúrbio de Tel Aviv, na época Mandato Britânico da Palestina. Foi uma das formadoras da poesia israelense contemporânea, ao lado de Yehuda Amichai (1924-2000), Natan Zach (1930) e David Avidan (1934-1995), publicando doze volumes de poesia, três coletâneas de contos e vários livros infantis, bem como traduções, para o hebraico, de autores como Yeats, Poe e T. S. Eliot. Além de poeta, foi jornalista, formada pela Universidade Hebraica de Jerusalém, ativista pela paz e pelos direitos dos palestinos. Morreu em agosto de 2005.


https://escamandro.files.wordpress.com/2013/11/dahlia-ravikovitch.jpg

Presságios
Quando o copo cai
um caco dispara,
e um papel escorrega,
e algo mexe ou se move,
e algo se parte em sua estrutura ––
é preciso ficar sempre de guarda.
Agora escrevo e paro
para pensar
quantas folhas de papel entalaram na minha garganta.
Eu, se assim posso dizer, não sou mais eu.
Estou partida, definhando rápido.
Um tremor no ar. Falta um padrão.
Talvez seja eu que caia depressa.
E eu me recuso a acreditar.
Simplesmente me recuso a ver.

para Itzchak Livni
Nove palavras eu lhe disse.
Você disse isso e aquilo.
Você disse: Você tem um filho,
Tem tempo, tem poesia.
As barras nas janelas ficaram gravadas em minha pele;
não dá para acreditar que aguentei tudo isso.
Eu não precisava, mesmo,
humanamente falando.
No dia Dez de Tevet o cerco começou;
no dia Dezessete de Tâmuz a cidade caiu;
no Nono de Ab o templo foi destruído.
Eu suportei tudo isso sozinha.
                         

dahlia-ravikovitchDahlia Ravikovitch (דליה רביקוביץ) foi uma poeta israelense, nascida em 1936 num subúrbio de Tel Aviv, na época Mandato Britânico da Palestina. Foi contemporânea de outros grandes nomes da poesia em hebraico moderno, como Yehuda Amichai (1924-2000), Natan Zach (1930-) e David Avidan (1934-1995) e, segundo Tsipi Keller, uma das formadoras da poesia israelense contemporânea. Sua vida pessoal foi tempestuosa, com a morte precoce do pai, quando ela tinha 6 anos, e um período curto que passou num kibbutz, ao qual não conseguiu se adaptar, por conta da sufocante mentalidade coletivista do local. Passou por três casamentos, alguns surtos de depressão e tentativas de suicídio, além de respostas muito negativas à sua poesia política por parte dos conservadores. Foi jornalista, formada pela Universidade Hebraica de Jerusalém, ativista pela paz e pelos direitos dos palestinos, publicou doze volumes de poesia, três coletâneas de contos e vários livros infantis, além de traduções, para o hebraico, de autores como Yeats, Poe e T. S. Eliot, e morreu em agosto de 2005.
Como me aconteceu com Someck, de meu post anterior, meu contato com a poesia de Dahlia Ravikovitch se deu com a seleção e tradução inglesa da estudiosa Tsipi Keller, no volume Poets on the Edge. No entanto, ao contrário de Someck, não consegui encontrar ainda nenhum volume de seus poemas traduzidos para o português diretamente do hebraico. Então, aproveitando o meu entusiasmo pela poesia israelense moderna, decidi mais uma vez tentar a empreitada da tradução indireta. Desta vez, no entanto, minhas fontes são duas: uma é, novamente, Tsipi Keller, a outra é a dupla de tradutoras Chana Bloch e Chana Kronfeld, responsáveis pelo volume de traduções de Ravikovitch Hovering at a Low Altitude (Nova York: W.W. Norton, 2009), o que nos fornece uma variedade um pouco maior, já que a seleção das Chanas (nota: o ch é pronunciado como um quase r, meio gutural) busca os poemas ao longo de quase toda a carreira de Dahlia, ao que pude ver, enquanto Keller se foca num livro apenas (אמא עם ילד , ou Mãe com Criança, de 1992).
Nicolaevsky - Flores e o mar da galileia ao fundo
Talvez eu devesse arriscar algum comentário mais detido sobre sua poesia, mas creio que seria melhor um estudo, de minha parte, um pouco mais profundo a respeito, a fim de evitar o comentário ingênuo ou redundante. Se eu tivesse algo a dizer agora sobre o que mais me atraiu nos versos de Ravikovitch seria a sua capacidade de criar impacto, de revestir frases diretas e simples, como o “Eu suportei tudo isso sozinho” ou “Eu não estou aqui”, de uma tremenda força emocional. Esse peso parece ser ainda maior nos poemas políticos, onde esses versos surgem sob um pano de fundo profundamente irônico, como é o caso de “Planando em baixa altitude”, poema que dá título ao volume de traduções de Bloch & Kronfeld. Nele, segundo Kronfeld, o “Eu não estou aqui” seria uma referência ao afastamento moral de Tel Aviv, amarrando a pequena e horrenda fábula narrada com a realidade política israelense. Nem toda sua poesia é claramente política, mas essa guinada é visível a partir de 1982, data da invasão do Líbano por Israel. Há poemas, como “Orgulho” (reproduzido e retraduzido abaixo), datado de 1970, que tratam de assuntos mais intimistas, uma outra faceta de Ravikovitch que gostaria igualmente de apresentar. Como é provavelmente inevitável, talvez até para o próprio pensamento em hebraico, há uma abundância de referências da tradição judaica, como, nos poemas que selecionei, ao dia da destruição do Templo de Salomão no Cerco de Jerusalém em 9 do mês de Ab, em “Uma História Privada”, e ao Salmo 121:1, em “Planando”. Pode ser só um chute, mas imagino que não se trate de referências puramente eruditas, por assim dizer, mas de referências comuns da cultura judaica.
Por fim, apresento, então, 3 poemas vertidos a partir da tradução de Tsipi Keller e 4 poemas vertidos a partir da tradução de Chana Bloch & Chana Kronfeld.
Adriano Scandolara
                  

Uma História Privada
                          para Itzchak Livni
Nove palavras eu lhe disse.
Você disse isso e aquilo.
Você disse: Você tem um filho,
Tem tempo, tem poesia.
As barras nas janelas ficaram gravadas em minha pele;
não dá para acreditar que aguentei tudo isso.
Eu não precisava, mesmo,
humanamente falando.
No dia Dez de Tevet o cerco começou;
no dia Dezessete de Tâmuz a cidade caiu;
no Nono de Ab o templo foi destruído.
Eu suportei tudo isso sozinha.
                         
A Vida de um Besouro
Um besouro preto segue o seu caminho devagar.
Você o observa e diz: Como é feio.
Um corpo corcunda, olhos incansáveis,
ele chegou aqui do Paquistão
sem motivos ocultos.
Dê crédito ao besouro preto.
Ele veio para cá trabalhar, aspirar
a um futuro breve e brilhante –
a mais alta alegria do besouro.
Não lhe faça mal,
ele suplica por misericórida
e segue a rastejar.
No fundo de seu coração besta
todo besouro sabe
que você não o poupará,
que você não dará ouvidos.
                         
A História do Árabe que Morreu no Incêndio
Quando o fogo pegou seu corpo, não foi gradualmente
Não houve um primeiro estouro de calor,
nem rajada da fumaça que sufoca,
ou uma noção de algum lugar próximo
para onde fugir.
A chama o pegou instantaneamente –
isso não tem símile –
tirou suas roupas,
chamuscou-lhe a carne.
Os nervos epidérmicos foram atingidos primeiro,
o cabelo alimentou a chama,
Meu Deus, ele gritou, queima,
e foi só isso que pôde fazer em autodefesa.
A carne já queimava com as tábuas do barraco,
que alimentaram a chama no primeiro estágio.
Ele não mais possuía compreensão;
a chama alimentada na carne
amortecia a noção do futuro.
Ele não tinha mais vínculo com sua infância.
E gritava sem quaisquer freios mentais
e perdeu toda a relação com os familiares;
não rogava por vingança, salvação,
não rogava para ver a manhã do dia seguinte.
Desejava só parar de queimar,
mas o próprio corpo mantinha o fogo.
Era como se estivesse preso e amarrado –
mas não pensava nisso também.
E continuou a queimar com o vigor de seu corpo
feito de carne, medula e nervos.
E queimou por muito tempo.
E sons desumanos emanaram de sua garganta,
pois várias funções humanas já haviam parado de funcionar,
exceto pela dor que os nervos conduzem em correntes elétricas ao centro de dor no cérebro.
E não durou mais do que um dia.
E felizmente seu espírito rendeu-se aquele dia,
ele merecia descanso.
(traduções de Adriano Scandolara, via Tsipi Keller)
                         
No ano por vir, nos dias por vir
No ano por vir, nos dias por vir
Minha mãe repousa na cama, tentando morrer.
Oito anos se passaram, as manhãs
iguais às tardes
e todas as horas segundos minutos entre elas
esquálidos e vazios.
Minha mãe não dava as horas
às flores e toda aquela baboseira que florescia
a beleza da natureza, os temporais.
Oito anos e nem um único momento a fez
mais sábia, não a fez erguer-se em pé
nem restaurou sua força de vontade,
a Alegria do Trabalho, o poder de lembrar-se
de algo tão vital ao seu ser
quanto os Preceitos Éticos do Judaísmo.
Minha mãe repousa na cama, tentando morrer.
De repente, ela se ergue como uma leoa
em protesto, e diz sem falar: Já me basta
Viver já deu o que tinha que dar
nos dias por vir
no ano por vir
todas as gloriosas flores da Galileia terão de crescer
sem mim.
                         
Montes de sal
A espuma do mar pairava como asas de um pássaro
e dois montes de sal restavam na praia,
e todo o mar era lago sobre lago
com os barcos à vela pequenos como um polegar,
suas cores como bolhas de sabão.
E nós dois sentados, cada um no seu lago,
duas faixas de praia entre nós
e uma fortuna de algas marinhas.
E as frondes pesadas das algas balançavam para frente e para trás,
se enroscando nos dentes dos corais num suspiro de desenfreada luxúria.
Uma massa de algas marinhas se soltou e caiu aos meus pés,
e minhas pálpebras pesavam de luz.
E o mar se ergueu e transbordou de poça em poça,
e através de seus riachos azuis havia um tecido de esplendor.
Lagos se enchiam nas palmas de nossas mãos,
e faixas de praia entre nós – duas braças de comprimento.
E durante aquele dia inteiro jamais nos aproximamos, nem um fio de cabelo,
os corpos como dois montes de sal, os pés como alga marinha.
                         
Orgulho
Até as rochas se partem, eu te digo,
e não é pela idade.
Tantos anos deitadas de costas no calor e no frio,
tantos anos
que quase se cria a ilusão de tranquilidade.
Não se movem, escondendo as rachaduras.
Uma forma de orgulho.
Os anos as passam enquanto aguardam.
Quem quer que venha arrebentá-las
ainda não veio.
E assim floresce o musgo, a alga
chicoteia,
o mar rebenta e volta –
e ainda parecem imóveis.
Até que uma foca venha se esfregar contra as rochas, venha e vá.
E de repente na rocha surge uma ferida aberta.
Eu te disse, é uma surpresa quando as rochas se partem.
As pessoas, mais ainda.
                        

Planando em baixa altitude
Não estou aqui.
Estou lá naqueles montes rochosos do leste
riscados de gelo
onde a relva não cresce
e uma vasta sombra varre os barrancos.
Uma pastorinha
com um rebanho de bodes,
bodes pretos,
emerge de súbito
de uma tenda não vista.
Ela não sobreviverá a esse dia, a menina,
no pasto.
Não estou aqui.
Dentro da boca arreganhada da montanha
um globo vermelho irradia,
não bem sol ainda.
Uma lesão de geada, corada e doente,
revolve nessa garganta.
E a pequenina se levantou tão cedo
para ir ao pasto.
Ela não pinta os olhos com kajal.
Ela não pergunta, De onde me vem o socorro?
Não estou aqui.
Estou pelas montanhas há vários dias já.
A luz não me há de escorchar. A geada não me há de tocar.
Nada mais me poderá deslumbrar.
Vi coisas piores na vida.
Aperto o vestido preso nas pernas e plano
muito próxima do chão.
O que será que pensava a menina?
Bárbara de se olhar, mal lavada.
Por um momento ela se agacha.
As faces de seda macia,
marcas de congelamento nas costas da mão.
Parece distraída, mas não é,
na verdade, está alerta.
Ainda muitas horas lhe restam.
Mas isso sequer é assunto das minhas meditações.
Meus pensamentos, macios como plumas, me acomodam com conforto.
Descobri um método simplíssimo,
não estou a sequer um palmo na terra
e também não voo –
planando em baixa altitude.
Mas enquanto o dia caminha até a metade,
muitas horas
após a alvorada,
o homem sobe até a montanha.
Ele parece bastante inocente
A menina está bem lá, perto dele,
sequer uma vivalma por perto.
E se ela procurar cobertura, ou gritar –
não há onde se esconder nas montanhas.
Não estou aqui.
Estou acima dessas cordilheiras selvagens
nos pontos mais longínquos do leste.
Não é necessário elaborar.
Com um só arremesso se plana
e rodopia por aí veloz como o vento.
Posso pôr-me em fuga e me persuadir:
Não vi coisa alguma.
E a pequenina, os olhos se arregalam nas órbitas,
o céu da boca seco como um caco de vaso
quando uma mão áspera lhe prende o cabelo e a agarra
sem a menor pena.
(traduções de Adriano Scandolara, via Chana Bloch e Chana Kronfeld)
Graça
O insulto da fome ao pobre tu não aplacarás
e o desvelo do vingador tu não aclamarás
e a casa a ser demolida tu não protegerás com teu corpo
e o carrinho da bebê impulsionado ao céus por um redemoinho
tu não apanharás nem baixarás suavemente
e o reino do mal tu não expulsarás.
volta-te então para sua casa
para aquele que te ama
para o único que é teu
para o apelo amarelo nos seus olhos estreitos
e enterra o teu rosto em seu pelo.
Uma carícia
para um gato
no mundo

Tesouro
No inverno os guardas arrancaram o cobertor da
pele dos habitantes do jardim. Um deles não verá o dia.
Na primavera foram lançadas garrafas cegas
nas casas assinaladas, que se incendiaram.
À noite busquei refúgio em teu corpo
como um menino se abriga no pé de morango.
Ouvir somente a tua respiração
apoiar-me em ti da cabeça aos pés e por um instante
não ver nuvens de veneno e de ocaso
acumulando-se pesadas.
Que mais direi.
Que és na minha pobreza o tesouro oculto
que a mão deles não alcançará.
Que eu seja na tua pobreza o tesouro oculto
que o saber deles não alcançará.

Assim
O gato escapando em um perfeito arco
sobre a cerca, as crianças, rindo atrás do muro,
não saberão como a dor ataca
como uma voz que incessantemente lamentava,
e de repente é ouvida.
Que brava paciência
teve o frágil professor de piano, como,
quando os demais deixaram um por um,
olhar para baixo, eu permaneci a última
pela música, ou pela fragilidade,
as mãos ainda apertam o livro
quando os olhos se fecham,
assim deve-se preservar o amor
porque, como uma estrela, ele nos abriga nas noites
mesmo morto.



tal nitzán é uma poeta, editora & tradutora (sobretudo de literatura hispânica para o hebraico) israelense nascida em jafa; já viveu em buenos aires, bogotá & nova york, para então se estabelecer em tel aviv. até o momento, lançou 5 livros de poesia: Doméstica (2002, prêmio do ministério da cultura para livro de estreia), Uma noite comum (2006, prêmio da associação de editores de israel), Café soleil bleu (2007), A primeira a esquecer (2009, venceu o concurso da sociedade de artistas e escritores) e Olhar a mesma nuvem duas vezes (2012). sua poesia já foi traduzida para mais de 20 idiomas, tais como castelhano, francês, italiano, lituano, português &c. num post anterior, apresentei alguns dos poemas de tal nitzán que haviam sido traduzidos para o português no belo volume o ponto da ternura. de lá pra cá, tive a oportunidade de conversar um pouco com a poeta &, com sua supervisão dedicada & gentil, pude verter 5 poemas inéditos em nossa língua a partir da sua versão em inglês.




tal nitzán, por iris nesher
Resposta à tua pergunta
Foi a aflição mais longa que eu já vi.
A primavera se espremeu em verão e o verão
já perdia seu vigor
e a mesma escuridão ainda cobria tudo.
Como um alpinista invertido
descobri que debaixo de cada fundo
abre-se outro. Não,
falar não dá grandes prazeres e
não há quase mais nada pra descobrir:
você rema nos longos dias
como um autômato, reúne toda força
para a menor da demandas, percebe
que é teu somente teu, mais
do que tudo que já foi teu, sai
depois de três — ou quatro? — dias fechada
e se espanta com tanto ruído e luz.
Também te encaram espantados,
depois machucam. Ao meio-dia você
já se arrebata pela ânsia da noite,
uma hora dura um ano, você
pensa apenas em dormir, por fim
você desaba agradecida sobre a cama:
tua garganta amordaçada, mas
a pequena morte ainda se entrega,
sepulcro da vida cotidiana, banho das lides dolorosas, bálsamo
como acabou? Simples,
como começou. Num dia súbito
isso te joga de novo na praia.
Uma brisa leve, a cor ao teu redor
se aclara, tuas pernas tremelicam na areia,
a língua volta pra você. Mão você não
esquece: esse olhar paciente
nunca te perde de vista.

Instruções
Se a dor não passa com 1 tablete 2 tabletes podem servir mas não exceda 6 tabletes em 24 horas.
Se 48, 72 horas já se foram
e os tabletes terminaram
e a dor ainda não passou —
você passa pra ela,
veja o quanto ela precisa de você,
transforme-a num quarto, numa poltrona,
entregue-se a ela.

Resposta à tua pergunta
Foi a aflição mais longa que eu já vi.
A primavera se espremeu em verão e o verão
já perdia seu vigor
e a mesma escuridão ainda cobria tudo.
Como um alpinista invertido
descobri que debaixo de cada fundo
abre-se outro. Não,
falar não dá grandes prazeres e
não há quase mais nada pra descobrir:
você rema nos longos dias
como um autômato, reúne toda força
para a menor da demandas, percebe
que é teu somente teu, mais
do que tudo que já foi teu, sai
depois de três — ou quatro? — dias fechada
e se espanta com tanto ruído e luz.
Também te encaram espantados,
depois machucam. Ao meio-dia você
já se arrebata pela ânsia da noite,
uma hora dura um ano, você
pensa apenas em dormir, por fim
você desaba agradecida sobre a cama:
tua garganta amordaçada, mas
a pequena morte ainda se entrega,
sepulcro da vida cotidiana, banho das lides dolorosas, bálsamo
como acabou? Simples,
como começou. Num dia súbito
isso te joga de novo na praia.
Uma brisa leve, a cor ao teu redor
se aclara, tuas pernas tremelicam na areia,
a língua volta pra você. Mão você não
esquece: esse olhar paciente
nunca te perde de vista.

Um mílímetro pra saída
Sem forçar os olhos, sem
sequer abri-los, posso vê-la
boiar de cara pra baixo,
a cabeça imersa no breu.
Ela largou os
adictos anônimos
por nunca conseguir dizer
meu nome é tal e tal e eu sou —
Nas marés
de um quarto estranho
ela vaga um milímetro
pra saída e volta um metro.
Como posso, assim sem peso,
trazê-la pro lado aceitável.
Salvá-la, escorraçá-la —
daria no mesmo.

Montanhesco
Acabou o gás de cozinha ou algo assim
quem lembra por que
subi no telhado
num dia em maio
um dia que espalhava sobre o céu um lençol
a tom de mostarda de uma laranja de uma bomba H
e o longo e árduo anseio pela chova
cresceu feito um uivo vindo dos estacionamentos
até placas de satélites
lá altas moradias me cercaram
lá os castelos de lordes me sitiaram
Torres Summit Torres Tel Aviv Torres Sheraton City Cimos Gindi e Cidadelas Yoo
e aquele predinho feito um falo
e sob a sombra das torres
parecendo uma floresta tesa de $ $ $
suas garras arranhavam a terra vazante
e suas testas planas no céus amarelados
eu refleti no apartamento dezoito andares abaixo
sobre a graça revivida a cada ano
sem opções de renovação no contrato contra um depósito de seguro
sobre o cenário incansavelmente autorrefinante
que um dia
num baque rápido e certeiro
será arrancada que nem tapete
debaixo de meus pés.

Montanhesco
Acabou o gás de cozinha ou algo assim
quem lembra por que
subi no telhado
num dia em maio
um dia que espalhava sobre o céu um lençol
a tom de mostarda de uma laranja de uma bomba H
e o longo e árduo anseio pela chova
cresceu feito um uivo vindo dos estacionamentos
até placas de satélites
lá altas moradias me cercaram
lá os castelos de lordes me sitiaram
Torres Summit Torres Tel Aviv Torres Sheraton City Cimos Gindi e Cidadelas Yoo
e aquele predinho feito um falo
e sob a sombra das torres
parecendo uma floresta tesa de $ $ $
suas garras arranhavam a terra vazante
e suas testas planas no céus amarelados
eu refleti no apartamento dezoito andares abaixo
sobre a graça revivida a cada ano
sem opções de renovação no contrato contra um depósito de seguro
sobre o cenário incansavelmente autorrefinante
que um dia
num baque rápido e certeiro
será arrancada que nem tapete
debaixo de meus pés.