terça-feira, 5 de janeiro de 2016





tal nitzán, por iris nesher
Resposta à tua pergunta
Foi a aflição mais longa que eu já vi.
A primavera se espremeu em verão e o verão
já perdia seu vigor
e a mesma escuridão ainda cobria tudo.
Como um alpinista invertido
descobri que debaixo de cada fundo
abre-se outro. Não,
falar não dá grandes prazeres e
não há quase mais nada pra descobrir:
você rema nos longos dias
como um autômato, reúne toda força
para a menor da demandas, percebe
que é teu somente teu, mais
do que tudo que já foi teu, sai
depois de três — ou quatro? — dias fechada
e se espanta com tanto ruído e luz.
Também te encaram espantados,
depois machucam. Ao meio-dia você
já se arrebata pela ânsia da noite,
uma hora dura um ano, você
pensa apenas em dormir, por fim
você desaba agradecida sobre a cama:
tua garganta amordaçada, mas
a pequena morte ainda se entrega,
sepulcro da vida cotidiana, banho das lides dolorosas, bálsamo
como acabou? Simples,
como começou. Num dia súbito
isso te joga de novo na praia.
Uma brisa leve, a cor ao teu redor
se aclara, tuas pernas tremelicam na areia,
a língua volta pra você. Mão você não
esquece: esse olhar paciente
nunca te perde de vista.

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